Para Alexandro Cardoso, 29 anos, morador do Loteamento Cavalhada em Porto Alegre (RS), a resposta é curta: “Lixo para mim é tudo. É a minha vida”. O professor, que possui especialização em cooperativismo e doutorado em Educação, concorda. “Para os recicladores e recicladoras, talvez por influência da reflexão ecológica e dos significados de seu aproveitamento para a vida, lixo não é lixo, mas material reciclável, matéria-prima. Talvez um pouco romântico, mas é”, reflete.
Incentivando o protagonismo – Uma das importantes parcerias do movimento dos catadores foi celebrada com a Fundação Luterana de Diaconia (FLD), entidade criada em 2000 por decisão do Conselho da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (CI/IECLB), com o objetivo de apoiar a execução de projetos que promovam a qualidade de vida, cidadania e justiça social. A partir do apoio da FLD, os catadores desenvolveram, por exemplo, o projeto Cadeia Produtiva de Reciclagem, através do qual a Petrobrás destinará R$ 965.759,92, em dois anos, para a formação de catadores e a organização de 17 entrepostos de comercialização em todo o estado. “Uma coisa importante é que a Fundação apóia e estimula o protagonismo, ou seja, nós que conhecemos a realidade somos quem desenvolvemos o projeto. Não é nada pronto, vindo de fora e feito por quem não entende do assunto. Assim não funciona”, atesta Alex. Além de auxiliar na organização dos catadores, disponibilizando espaço físico e computadores, a FLD disponibiliza aporte técnico aos projetos, intervindo na negociação com os financiadores.
Um dos resultados de todo esse trabalho é a recuperação da autoestima de pessoas que até pouco tempo atrás eram vistas apenas como mendigos. “Quem de nós na infância não ouviu falar do ‘velho do saco’?”, questiona Alex. Segundo ele, esse personagem do imaginário infantil era um catador. Hoje, na sua opinião, essa percepção mudou. “O catador já é visto como alguém que está fazendo sua parte, não está lesando ninguém e contribui para a preservação da natureza”, acredita. “Hoje podemos considerar esses trabalhadores verdadeiros heróis, que tentam minimizar os efeitos do modelo crematístico (depredação sem medir as consequências, como se os recursos da natureza fossem infinitos, ilimitados) de produção e de consumo adotado pelos países na lógica capitalista. Eles têm um potencial profético no sentido de denunciar, sim, os rumos do contradesenvolvimento e a idéia de que nossa saída está no crescimento econômico ilimitado. No entanto, a voz deles ainda não se faz ecoar”, lamenta Adams.
Extrato do artigo da Revista Novolhar - Edição Maio e Junho de 2009.
Autora: Jornalista Vera Nunes
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